17 junho 2025

O GOLPE DO AMOR




O Golpe do Amor e Outras Violências: quando ser mulher é virar alvo de todos os lados

Em pouco tempo, o romance vira golpe — e ela se vê com o coração partido e o bolso saqueado.

Esses crimes não são acidentes. São violências calculadas, praticadas contra mulheres que vivem sozinhas, com autonomia, e que a sociedade insiste em tratar como vulneráveis.

É assim que o mundo trata a mulher idosa: como depósito de afeto, caixa eletrônico, babá da família, empregada não remunerada ou alguém que “já viveu demais e devia se calar”.

Se você tem pouco dinheiro, te exploram como mão de obra doméstica. Se você tem algum patrimônio, querem te enganar, te cercar, te roubar.

A mulher idosa pobre muitas vezes é feita de empregada pelos próprios parentes, obrigada a viver de favor mesmo depois de ter criado filhos, netos, sobrinhos...

Quando enfim se aposenta, o que recebe é tomado por filhos ingratos, noras interesseiras ou familiares que a mantêm sob controle emocional.

A mulher idosa com algum dinheiro também não está a salvo. Ela é alvo do “golpe do amor”, de parentes oportunistas, de advogados, amigos da onça — todos tentando abocanhar o que ela construiu com esforço e dignidade.

E tudo isso porque ela ousou envelhecer livre.

Porque não se cala.

Porque não aceita ser invisível.

Envelhecer como mulher é perigoso. Mas não porque o corpo enfraquece — e sim porque a sociedade ainda acha que, depois de certa idade, você já não serve mais pra nada.

Eles esquecem que é justamente nessa fase que vem a coragem, a lucidez e a potência de quem sobreviveu a tudo.

Canto:

Eu não nasci pra ser Geni.

Nem saco de pancada emocional.

Nem herança antecipada de ninguém.

Sou mulher.

E sou livre.

E isso, sim, assusta muita gente.


Rafiza Lestoliê 




ESTAMOS VIVAS: Invisibilidade, Etarismo




Etarismo e Violência contra Mulheres Idosas: Invisibilidade, Abusos e Resistência

Por Rafiza Lestoliê


Vivemos em uma sociedade que venera a juventude como um totem de valor, enquanto descarta e silencia quem carrega nos ombros a sabedoria do tempo. Mulheres mais velhas, especialmente viúvas, solteiras por escolha ou mães solo, enfrentam não apenas a invisibilidade, mas também a violência simbólica e concreta de uma cultura que as desumaniza.


Esse fenômeno tem nome: etarismo — o preconceito e a discriminação baseados na idade. Quando esse preconceito se soma à misoginia estrutural, temos um campo fértil para abusos de todos os tipos: psicológicos, sociais, patrimoniais, físicos e até institucionais. E as vítimas, em sua maioria, são mulheres.


A mulher que envelhece é vista como descartável


Ao contrário dos homens, que frequentemente ganham status social com a idade, mulheres são empurradas para as margens. São tratadas como se tivessem perdido o valor, a sensualidade, a capacidade de decidir, de liderar, de opinar. Em muitos contextos, a mulher que envelhece é automaticamente vista como demente, frágil, carente ou disponível para qualquer tipo de abuso — inclusive emocional e financeiro.


Muitas vezes, essa mulher já criou filhos sozinha, cuidou de pais doentes, enfrentou lutos e se reconstruiu várias vezes. Mesmo assim, a sociedade insiste em tratá-la como uma figura dispensável. Uma espécie de “Geni” contemporânea — aquela da canção de Chico Buarque, que serve como depósito de todo tipo de rejeição e projeção cruel. E o mais perverso: quanto mais isolada essa mulher estiver — sem filhos homens, sem marido, sem "padrinho" social —, mais vulnerável se torna.